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Inteligencia artificial

Inteligência artificial em conteúdos: uma realidade presente

Em entrevista, o market leader do Watson Marketing, da IBM, Éber Gustavo Gonçalves, aponta tendências e cenários para uso da inteligência artificial em conteúdos

8 de abril de 2019

Redação

A inteligência artificial irá auxiliar as empresas a se tornarem grandes curadoras e produtoras de conteúdo. Quem diz é o market leader do Watson Marketing, da IBM, Éber Gustavo Gonçalves, na entrevista abaixo. Para ele, a tecnologia dará às empresas a capacidade de captar os sentimentos do público com maior precisão. Além de gerar conteúdos que falem diretamente com esses sentimentos. Gonçalves fala ainda das aplicações atuais do Watson, o sistema de Inteligência Artificial da IBM, na produção de conteúdos. E sobre que caminhos as empresas devem trilhar para se inserirem nessa realidade. Confira:

Éber Gustavo, da IBM: ferramenta para empresas se comunicarem melhor com seu público

A inteligência artificial já pode ser usada na produção de conteúdo?

Hoje nós temos isso através de vídeos. Ou seja, roteiros ou vídeos em si criados a partir da análise de outros vídeos. E também na parte de produção e análise de textos. Por exemplo, usar a inteligência artificial para verificar quais são as palavras-chave que o público se engaja ou interage mais. Gerando, assim, insights para quem cria conteúdos. Uma outra vertente é a análise de imagens, como no caso da Lexus, na Europa, em que todo o roteiro de um vídeo foi criado através do Watson. Por meio da inteligência artificial, eles analisaram diversos comerciais que ganharam prêmios e juntaram isso com emoções humanas. Ou seja, a inteligência artificial permite uma pesquisa de análise de sentimentos e interações que poderiam criar gatilhos de compra no público.

Vídeos podem ser criados automaticamente?

Um desenvolvedor chamado Felipe Deschamps criou, usando o Watson, da IBM, uma inteligência artificial em que você determina o assunto, ele vai na internet, pesquisa sobre ele, procura, baixa, trata e coloca as imagens dentro de um vídeo com animação e áudio, e envia pronto para publicação no YouTube, com título e descrição. Ele tem um canal no Youtube com algumas publicações que ele fez de forma automática.

Além dos vídeos, o que mais é realidade na produção de conteúdo com inteligência artificial?

Ainda estamos muito no começo do uso da inteligência artificial, mas existem diversas aplicações. Por exemplo, recomendação de conteúdo, recomendação de textos semelhantes, auto tagueamento de textos, imagens, identificação de palavras-chave, etc. Utilizamos também a AI para a criação do trailer do filme de terror Morgan.

Que outras aplicações temos do Watson em conteúdo?

Uma aplicação importante é identificação de conteúdos inapropriados, por exemplo, discriminatórios, para identificar a exposição de uma marca. Ou veiculados em locais não apropriados. Outra coisa é analisar o conteúdo para tirar insights sobre quais são os temas mais lidos. Ou seja, assuntos que geram mais engajamento, que mantém as pessoas interagindo.

Por exemplo?

Uma marca de automóveis que trabalhamos aqui na IBM teve insights a partir do chatbot de coisas que eles não sabiam antes. Essa interação direta com o consumidor permite a ele ter um feedback em real time do que ele está fazendo. Assim, a marca conseguiu identificar situações de risco e criou conteúdos para dar conta dessas situações. É um caminho sem volta.

Os humanos serão um dia dispensados como mostram filmes futuristas?

O que a inteligência consegue detectar é, por exemplo, quais conteúdos que você pode colocar dentro de um vídeo para gerar um engajamento maior. No entanto, sempre haverá a intervenção e a curadoria de um ser humano. A inteligência artificial analisa milhões de informações de forma muito rápida, mas isso gera apenas insights. Na Lexus, por exemplo, o roteiro do vídeo foi feito com inteligência artificial, mas ele foi dirigido por um diretor renomado, o Kevin McDonald. É um comercial que você tem começo, meio e fim em que você torce para que o carro consiga obter sucesso em um teste de colisão.

E qual será o futuro da inteligência artificial na produção de conteúdo?

A evolução vai ser grande. Haverá uma demanda por novos profissionais. As empresas que já adotaram essas soluções estão vendo novas funções surgindo. Por exemplo, se a inteligência artificial interagir com esse público será necessária uma pessoa para saber se a marca tem a mesma identidade que a AI. Por isso, serão necessários profissionais de comunicação que consigam estruturar muito bem diálogos. E que consigam que a inteligência artificial interaja com o público. Vai haver também oportunidades de buscar as informações que são mais relevantes. Gerar inteligência para fazer um grande filtro do que é interessante para a marca. O que está gerando engajamento ou insights ou conteúdo de relevância para o meu público. Até mesmo no sentido de evitar fake news e dar à marca uma maior assertividade sobre o que ela comunica. No entanto, ainda existem algumas evoluções por virem, como por exemplo identificar sarcasmo ou peculiaridades do humor humano.

A inteligência artificial vai fazer então das marcas grandes curadoras e produtoras de conteúdo?

Sim. As marcas serão, a partir da inteligência artificial, grandes curadoras de conteúdo e, a partir dessa curadoria, grandes produtoras de conteúdo. Principalmente as marcas que querem passar uma mensagem para o seu público. Muitos dos mecanismos usados hoje para ter um feedback do público são web analytics. Por isso, existe uma dificuldade muito grande em fazer uma análise de, por exemplo, palavras-chave que geram mais engajamento, entre outras informações.

Qual caminho as marcas tem que trilhar para se inserir nessa nova realidade?

A tecnologia hoje está democratizada. Não é preciso fazer um alto investimento para acessar uma tecnologia de ponta. O que eu preciso é ter uma base de dados muito simples. E conectar as informações das mais diversas áreas de uma empresa com a área de marketing. Quando você começa a trabalhar com inteligência artificial, é interessante você trazer os dados dos mais variados campos, para que esses dados comecem a ser analisados e gerem relevância. E essas informações podem, entre outras coisas, gerar novos conteúdos. É um trabalho, acima de tudo, de integração e de ter o pessoal de comunicação muito próximo para ensinar à inteligência artificial o que é relevante para a marca.