Em um artigo feito com exclusividade para o Lance!, no início de julho, Paulo Henrique Ferreira, Diretor Executivo da Barões Digital Publishing, fez uma análise do mercado esportivo, com um alerta sobre como os clubes brasileiros precisam profissionalizar sua gestão de conteúdo. E em meio a toda a movimentação do início do Campeonato Brasileiro, às voltas com a polêmica Medida Provisória 984/2020, o Brand Publishing Brasil ouviu alguns dos maiores nomes do mercado esportivo em suas áreas de atuação para uma série de entrevistas sobre a desintermediação do conteúdo na indústria, que você verá por aqui na próxima semana. 

A polêmica MP 984/2020

Após um movimento encabeçado pela diretoria do Clube de Regatas do Flamengo, a presidência da República editou e publicou, no dia 18 de junho, a Medida Provisória 984/2020. Ela dá ao mandante de uma partida esportiva os seus direitos de transmissão e reprodução. Com o início do Campeonato Brasileiro, o assunto ainda tem muito a render, inclusive no campo jurídico. Mas independentemente dos interesses de todos os stakeholders que cercam os eventos do esporte, a polêmica mudança na lei joga luz sobre a desintermediação do conteúdo. Um assunto para lá de recorrente aqui no Brand Publishing Brasil.

Ao dar os direitos da transmissão de uma partida esportiva para o dono da casa, a MP 984/2020 altera a Lei Pelé, que antes distribuía o chamado “direito de arena” entre o mandante e o adversário no jogo. Com isso, a emissoras de TV ou rádio interessadas em transmitir a partida precisarão negociar apenas com um time, em vez de dois. Além disso, o próprio clube mandante pode assumir a transmitir a partida. O que abre uma nova possibilidade de fonte de receita no mercado esportivo.

O primeiro movimento do Flamengo

Aproveitando-se da MP, o Flamengo comandou sua primeira transmissão como mandante. Pouco menos de duas semanas após a publicação no Diário Oficial. No dia 1º de Julho, o clube recebeu o Boavista, pelo Campeonato Carioca, e fez a transmissão pela FlaTV. 

A partida entrou para a história como a maior transmissão esportiva já feita pelo YouTube até então, com mais de 2,1 milhões de acessos simultâneos. O recorde batido dias depois, na final do Segundo Turno do Campeonato Carioca (Taça Rio), quando o Fluminense recebeu o Flamengo e teve mais de 3,5 milhões em sua FluTV.

“Os recordes alcançados pelas transmissões de partidas ao vivo em canais próprios dos clubes no Youtube, alavancados pela alteração legal trazida pela MP, reforçam o poder da internet. E acendem um sinal verde para a exploração comercial de mais uma forma de conteúdo em um futuro próximo”, afirmou Marcos Motta, sócio-fundador da Bichara e Motta Advogados e um dos mais renomados advogados do mundo no mercado esportivo e no ramo do entretenimento.

Como monetizar o conteúdo ao vivo

A monetização dessa forma de transmissão, no entanto, ainda é um desafio para os clubes, de acordo com Motta. Nas primeiras partidas, houve uma grande mobilização dos torcedores para ajudar o clube por meio da compra de “ingressos virtuais” ou mesmo doações pela própria plataforma do YouTube. No entanto, segundo o advogado, é difícil de acreditar que essa mobilização espontânea se sustentaria a longo prazo. 

Mercado esportivo e a atratividade do futebol

Sócio-fundador e CEO da SISU Venture Partners – holding que controla algumas das principais empresas de gestão e marketing esportivo no Brasil, como a Golden Goal, a FENG, o Clube do Patrocínio -, Cadu Ferreira acredita que ainda é preciso o olhar para as primeiras experiências realizadas no Campeonato Carioca como um teste. Até mesmo diante do cenário de batalhas jurídicas referentes aos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, por exemplo.

“Eu não faria nenhuma extrapolação ou inferência sobre como deverá se comportar o mercado a partir de agora. Ainda existem muitas incertezas envolvidas no tema. Inclusive sobre como vai evoluir a discussão da MP no Congresso. Mas os recordes batidos pelas transmissões de Flamengo e Fluminense não chegam a surpreender. Isso apenas dá uma demonstração indiscutível da atratividade do futebol ao vivo como conteúdo premium. Para qualquer que seja a plataforma de distribuição”, afirmou Cadu Ferreira. 

De acordo com o executivo da SISU, os números foram tão expressivos para a realidade do YouTube porque esta foi a primeira vez na história que jogos entre equipes de grande audiência no futebol mundial tiveram seus jogos transmitidos exclusivamente pela plataforma. A questão agora para os clubes, na opinião de Cadu, é comprovar a viabilidade desse tipo de transmissão. E se preparar para maximizar o potencial de receita a partir deste modelo desintermediado. 

Mídia própria e mídia tradicional

Ex-gerente de conteúdo de Flamengo e Corinthians, os dois times de maior torcida no Brasil, o jornalista Ricardo Taves tem um longo currículo na indústria do esporte. Atualmente, ele é Diretor de Estratégia de Conteúdo na FC Diez, agência que trata de consultoria, estratégia digital, patrocínios e consultoria de licenciamento para todas as empresas da Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL). E vê o caminho da desintermediação como inevitável. Mas não acredita numa dissociação por completo da mídia tradicional.

“Acho que sim, é um caminho cada vez maior essa produção própria de conteúdo. Inclusive agora, com essa novidade da transmissão dos jogos. Mas eu não acredito que um modelo de exclusividade seja sustentável. Até pela exposição que os canais de televisão dão”, afirmou o executivo da FC Diez.

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