O desenvolvimento de uma plataforma de Brand Publishing vai muito além da criação de um simples “repositório de conteúdo”. É o que explica João Gabriel Pereira, Diretor de Tecnologia da Barões Brand Publishing. Segundo ele, a plataforma representa um dos pilares fundamentais de qualquer projeto dessa natureza. E exige atenção especial desde as etapas iniciais de planejamento até a gestão contínua do ativo digital.
Um dos autores do livro “Brand Publishing na Prática“, lançado em outubro de 2024, pela Barões via editora Robecca & Co., João Gabriel falou em seu capítulo sobre o “Desenvolvimento e gestão de uma plataforma de publishing”. E nos concedeu uma entrevista a respeito do tema.
A plataforma é fundamental porque ela é a materialização da estratégia de publishing. Definitivamente não é só um ‘repositório de conteúdo’
Um dos principais alertas feitos por João Gabriel diz respeito ao envolvimento tardio das equipes de TI nos projetos de Brand Publishing. Segundo ele, esse é um erro comum que pode gerar retrabalho significativo e comprometer prazos e qualidade das entregas.
Outro aspecto crucial destacado na entrevista é a necessidade de mapear completamente o ecossistema digital da marca antes de iniciar o desenvolvimento. Esse processo envolve identificar todas as propriedades digitais existentes, desde sites institucionais e e-commerces até aplicativos e redes sociais.
A arquitetura da informação, segundo João Gabriel, representa um dos momentos mais delicados do projeto, pois exige equilibrar necessidades editoriais com exigências técnicas. Ele explica que decisões aparentemente simples, como a escolha do nome de uma categoria, têm implicações diretas em aspectos como SEO e performance.
Além disso, para o executivo, o lançamento da plataforma representa apenas o início de um processo contínuo de gestão e evolução.
O lançamento é só o começo. O principal desafio é manter a plataforma estável, segura e relevante
Veja abaixo a entrevista completa com João Gabriel Pereira, onde ele aprofunda esses e outros aspectos técnicos e estratégicos fundamentais para o sucesso de projetos de Brand Publishing, oferecendo insights valiosos para profissionais que buscam implementar ou aprimorar suas plataformas de conteúdo proprietário.
Entrevista com João Gabriel Pereira
No capítulo “Desenvolvimento e gestão de uma plataforma de publishing” do livro “Brand Publishing na Prática”, você destaca que a plataforma é um dos elos da cadeia e um dos pilares de um projeto de Brand Publishing. Por que a ela é tão crucial?
A plataforma é fundamental porque ela é a materialização da estratégia de publishing. Definitivamente não é só um “repositório de conteúdo”. Ela precisa ser pensada desde o planejamento, passando pela operação e, crucialmente, na gestão do ativo de Brand Publishing. Uma plataforma bem desenvolvida e gerida é o que permite que o conteúdo certo chegue à audiência certa, da forma certa, e que possamos medir e otimizar esse processo continuamente. Ela é o veículo que carrega a mensagem e a experiência da marca.
Você enfatiza a necessidade de “envolver o time técnico o quanto antes”. Quais são os riscos ou problemas mais comuns que surgem quando a equipe de TI é envolvida tardiamente no desenvolvimento de uma plataforma de publishing? Poderia compartilhar um exemplo prático (anonimizado, se necessário) de como esse envolvimento precoce evitou retrabalho?
O envolvimento tardio da TI é um erro clássico e custoso. Os riscos são inúmeros: retrabalho, decisões que precisam ser revistas por impossibilidades técnicas que não foram previstas, problemas de segurança, ou até mesmo a escolha de tecnologias que não se integram bem ao ecossistema existente da empresa. Lembro de uma situação, como mencionei no livro, em que apresentei um projeto a um Diretor de TI que, de início, ficou tenso por não ter sido envolvido antes. Expliquei que o planejamento estava começando naquele momento e que a equipe dele seria uma das primeiras a participar. A reunião mudou de tom, e conseguimos alinhar tudo desde o início, evitando o que poderia ter sido um grande problema de integração e aceitação técnica se tivéssemos chegado com decisões já tomadas.
Ao planejar uma nova plataforma, você menciona a importância de entender o “ecossistema digital da marca” e definir questões de “hospedagem e domínio”. Como esses mapeamentos iniciais impactam as decisões técnicas subsequentes e a integração da plataforma de publishing com outras propriedades digitais da marca?
O mapeamento do ecossistema é vital. Precisamos saber quais são as URLs existentes, quem são os responsáveis por elas, quais ferramentas a empresa já utiliza, quais as políticas de governança de domínio e hospedagem.
Se isso não for feito corretamente, podemos, por exemplo, descobrir no meio do desenvolvimento que a tecnologia escolhida não pode ser usada por alguma política interna, ou que o domínio desejado já está em uso ou tem uma governança complicada.
Esse mapeamento inicial informa todas as decisões técnicas, desde a escolha do nome do portal, subdomínios, até a infraestrutura de hospedagem, garantindo que a nova plataforma se encaixe e converse com o que a marca já possui, sem gerar conflitos ou retrabalho.
A “arquitetura da informação” é um ponto crucial que você aborda, envolvendo desde inventário de conteúdo até wireframes e UI/Design. Como você e sua equipe equilibram as necessidades editoriais (como categorias e tags) com as exigências técnicas (como SEO, performance e usabilidade da área administrativa) nessa fase?
Exatamente, a arquitetura da informação tem essa dupla natureza. Uma decisão aparentemente editorial, como o nome de uma categoria, tem implicações técnicas diretas, especialmente em SEO. O equilíbrio vem da colaboração. A equipe editorial define a identidade, os temas, a volumetria. A equipe técnica, então, analisa como isso se traduz em termos de performance, segurança, “encontrabilidade” no Google, e como as interfaces, tanto para o usuário final quanto para a equipe interna, podem ser otimizadas. Os wireframes são essenciais nessa fase para validar as ideias de layout e estrutura antes do design final, sempre pensando nos diferentes devices e no comportamento do usuário, lembrando que a homepage nem sempre é a principal porta de entrada.
A escolha de um CMS (Content Management System) é uma decisão técnica fundamental. Quais são os principais critérios que uma empresa deve considerar ao selecionar um CMS para sua plataforma de publishing, pensando em escalabilidade, segurança e na facilidade de uso pela equipe editorial?
Sem dúvida, é uma decisão crucial que tomamos bem no início, porque a escolha do CMS molda todo o futuro do portal. Há alguns critérios essenciais que a gente sempre considera. Primeiramente, a facilidade de uso para a equipe editorial é fundamental, que precisa de uma ferramenta intuitiva para gerenciar o conteúdo no dia a dia sem depender demais da TI.
Claro, a plataforma precisa ser tecnicamente sólida: segura, com atualizações constantes para proteger contra vulnerabilidades, e escalável para aguentar o crescimento de conteúdo e acessos sem perder performance.
Também olhamos se o CMS é “SEO-friendly”, ou seja, se ajuda na otimização para que o conteúdo seja bem encontrado pelos mecanismos de busca. E, por fim, a flexibilidade para se adaptar às necessidades específicas do projeto e um bom suporte ou comunidade em torno do CMS fazem toda a diferença quando precisamos resolver algo ou evoluir a plataforma. É um conjunto que visa garantir tanto a operação diária quanto a longevidade e eficácia do portal.
Você descreve a plataforma de publishing como um “organismo vivo”. Quais são os desafios contínuos na “gestão de uma plataforma de publishing” após o lançamento, especialmente em termos de manutenção, atualizações de segurança, e a incorporação de novas funcionalidades baseadas no comportamento dos usuários?
O lançamento é só o começo. O principal desafio é manter a plataforma estável, segura e relevante. Isso significa manutenção diária, atualizações de segurança constantes – porque novas brechas surgem todos os dias – e, fundamentalmente, evoluir a plataforma. Essa evolução é guiada pela análise de métricas e pelo comportamento dos usuários. A equipe de métricas e a redação observam como os usuários interagem e trazem sugestões de melhorias ou novas funcionalidades. Integrar essas novidades de forma consistente, sem depreciar pilares como UX e SEO, é um desafio constante.
Um ponto interessante que você levanta é a “UX da porta para dentro”, referindo-se à usabilidade da área administrativa para redatores e editores. Quão crítico é esse aspecto para a eficiência da produção de conteúdo e quais são os principais desafios ou soluções para criar uma boa experiência para os usuários internos da plataforma?
É absolutamente crítico! Os redatores e editores são usuários do seu produto, só que em um contexto interno.
Se a área administrativa for complexa, lenta ou confusa, a produção de conteúdo será ineficiente, propensa a erros e frustrante para a equipe.
Uma interface interna fácil e intuitiva não só agiliza a publicação e edição, mas também facilita tarefas como a “linkagem” interna, que é importante para SEO. O desafio é entender as necessidades específicas da equipe editorial e projetar a área administrativa com o mesmo cuidado que se projeta a interface para o público externo.
Ao final do capítulo, você conclui que o Brand Publishing proporciona “um espaço proprietário com coleta legítima de dados”. Como a tecnologia da plataforma é desenhada para garantir essa coleta legítima e, ao mesmo tempo, proporcionar um ambiente seguro e confiável para a audiência?
A plataforma, por ser proprietária, é o ambiente controlado pela marca. Tecnologicamente, isso significa que temos a responsabilidade de implementar mecanismos que garantam a segurança dos dados coletados e a transparência com o usuário sobre como esses dados são utilizados. Embora o capítulo não detalhe as minúcias técnicas de consentimento, por exemplo, o princípio é que a plataforma deve ser construída com segurança desde a base, utilizando protocolos seguros, atualizações constantes e uma arquitetura que proteja as informações. Ser um “espaço proprietário” significa que a marca tem o controle e a responsabilidade de fazer essa coleta de forma ética e segura, construindo uma relação de confiança com sua audiência.
Pensando no futuro, quais tendências tecnológicas (IA na criação de conteúdo, personalização avançada, novas abordagens de SEO, etc.) você enxerga como mais impactantes para o desenvolvimento e gestão de plataformas de Brand Publishing nos próximos anos?
O capítulo que escrevi para o livro foca bastante nos fundamentos sólidos que são a base de qualquer plataforma de sucesso. Dito isso, é inegável que tecnologias como Inteligência Artificial para auxiliar na produção ou análise de conteúdo, personalização cada vez mais granular da experiência do usuário e as constantes evoluções em SEO e análise de dados serão cada vez mais presentes. O crucial será como integramos essas tendências mantendo os princípios de segurança, confiabilidade, usabilidade e, principalmente, o foco em entregar valor real para a audiência. Uma plataforma bem arquitetada e gerida, como descrevo no capítulo, estará mais preparada para absorver e se beneficiar dessas inovações.