Dados são cada vez mais importantes e discutidos. Estima-se que nos próximos dois anos, será produzido um volume equivalente a todo o conhecimento gerado pela humanidade até hoje. Porém, ainda são uma riqueza pouco explorada. Como podemos acumular dados e extrair valor deles, colocando o consumidor no centro e criando vantagens competitivas para as empresas?
Com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) que entra em vigor já em 2020, as marcas vão precisar aprender os limites dos usos dessas informações. As empresas estão prontas para essas mudanças? Elas já conseguem usufruir desses elementos de forma mais lucrativa para o negócio? O Brand Publishing Brasil conversou com o Pesquisador e Professor João Vitor Rodrigues com mais de 10 anos de experiência no mercado de Comunicação e Marketing Digital para responder algumas questões.
Qual a importância da curadoria de dados na comunicação atual?
Tornar a enorme quantidade de dados brutos em informação estratégica, em inteligência, transformá-los em produtos, negócios, ações, enfim, a importância de saber lidar com tantos dados hoje é porque dados em si não significam muita coisa quando estão fora de contexto, quando não estão alinhados com um objetivo de negócio. A comunicação nos dias de hoje pode se valer de uma enorme variedade de dados para entender comportamentos, identificar tendências, antecipar crises e complementar outras informações com as quais já lidamos no dia a dia de negócios. É preciso compreender bem como esses dados podem ser úteis para contribuir com a comunicação. Nesse caso, ter mais dados não significa resultados melhores. Ter mais dados será melhor à medida que tivermos mais pessoas com as habilidades necessárias para lidar com eles, capazes de interpretá-los de forma criativa, inovadora, capazes de levá-los a um outro nível de conhecimento.
Por que os profissionais de comunicação e marketing precisam, cada vez mais, saber extrair informações essenciais nos dados disponíveis?
A quantidade, a variedade e a complexidade dos dados disponíveis em diferentes plataformas de conteúdo e de mídia é cada vez maior, com isso, entender de onde eles vêm, em quais formatos e como podem ser bem aproveitados em estratégias e ações para marcas é fundamental. É por isso que é importante que profissionais dessas áreas invistam tempo em aprender a respeito, que dediquem tempo para ler e entender métodos de coleta, tratamento e análise desses inúmeros e diferentes dados. A maior quantidade e disponibilidade desses dados pode, muitas vezes, mais confundir do que ajudar. Ainda tem gente que acredita que quanto mais, melhor, porém, quando se depara com as dificuldades para dar sentido a tantos dados, entende melhor como é importante se preparar para lidar com os desafios que eles nos impõem. Não há regras sobre o que fazer com eles, ser criativo e coerente é muito importante, mas certamente vai sair na frente aquele profissional que estiver mais bem preparado.
O que essas informações mudam no planejamento e estratégia da comunicação?
Esses dados ajudam a orientar planejamento e estratégia, na tentativa de reduzir incertezas. Claro que eles não agem isolados, na verdade, esses novos formatos de dados, de diferentes origens devem ser combinados com outros dados que já temos sobre nossos públicos – demográficos, transacionais, de audiência etc. É um equívoco pensar que dados de plataformas digitais e de mídias sociais, por exemplo, podem sozinhos ser usados para traçar estratégias de marcas. Eles podem, sim, contribuir bastante, mostrar novas perspectivas, trazer novos olhares sobre os públicos com os quais as marcas se relacionam, mas para planejamento e estratégia todos esses diferentes formatos de dados com os quais nos deparamos, cada vez mais, devem ser levados para dentro do contexto de cada marca, de cada negócio. O papel dos dados é, como disse, ajudar a diminuir incertezas, a orientar melhor as decisões de investimentos, mas eles só fazem sentido quando bem contextualizados e, principalmente, quando as marcas têm de forma clara quais são seus objetivos de negócios para saber como eles podem suportar aquelas decisões.
Com tanta informação disponível, como identificar quais são úteis para a estratégia da marca?
Isso quem pode fazer melhor é um profissional com boa capacidade analítica, capaz de entender diferentes cenários, criativo, multidisciplinar, capaz de lidar com a complexidade do cruzamento de diferentes fontes de dados, pois identificar o que é útil para a estratégia das marcas é papel de pessoas bem preparadas e que entendem ao mesmo tempo também de negócios. Combinar bem as habilidades para lidar métodos de coleta e tratamento de dados com habilidades de negócios pode ajudar bastante a diferenciar dentre essa imensa quantidade de dados o que é útil e o que é supérfluo. Quando o objetivo de negócio da marca é claro, profissionais de estratégia sabem a quais dados recorrer, com que frequência, de quais fontes e podem, então, distinguir o que pode ser utilizado de forma coerente para orientar decisões estratégicas.
Como você acha que a LGPD vai influenciar o marketing?
A Lei vai ajudar a organizar muitas questões para as quais não demos muita atenção nos últimos anos, como a privacidade de inúmeros dados de consumidores, por exemplo, e que são de extrema importância para os negócios e também para as pessoas, os cidadãos, que são os donos de tantos dados compartilhados em inúmeras plataformas digitais. Sinto que há muitas dúvidas ainda, tem muitas empresas que sequer começaram a pensar sobre os impactos da lei em seus negócios, por isso é preciso falar mais a respeito, promover mais debates, trazer à luz casos, exemplos, boas ideias. Acredito que a Lei vai contribuir para produzir aspectos positivos nas relações entre empresas e consumidores, afinal de contas, muitas vezes entregamos dados sem muito cuidado e atenção, sem muita preocupação para onde eles vão, como serão usados, em quais ocasiões etc. As marcas passam a ser obrigadas a agir com mais transparência, a informar desde o início de uma relação como pretendem fazer uso de nossos dados e isso é cada vez mais importante para os dois lados.