O licenciamento tem potencial para ser uma das principais estratégias para editoras que buscam expandir além do formato tradicional de revista. Esta foi a ideia principal da palestra de Lulu Skantze, fundadora e diretora criativa da revista infantil Storytime, no FIPP Insider São Paulo.

A brasileira radicada em Amsterdã comandou o Painel 5 do evento, “Explorando estratégias criativas de licenciamento e oportunidades de crescimento”, onde compartilhou a jornada da Storytime desde seu lançamento em 2014 até se tornar uma das maiores publicações infantis do Reino Unido, presente em cinco países e distribuída em mais de 60.

Veja na íntegra como foi o evento

A revolução do conteúdo infantil

Skantze iniciou sua apresentação relatando o momento decisivo que a levou a criar a Storytime. Em um aeroporto na Inglaterra, observou uma família comprando revistas infantis repletas de brinquedos plásticos gratuitos.

As crianças abriram a sacola de plástico, rasgaram, jogaram fora. Folhearam a revista em dois segundos, jogaram fora para brincar com os brinquedos

Essa observação revelou um problema fundamental no mercado editorial infantil: revistas de baixa qualidade editorial, focadas apenas em brindes, que ensinavam às crianças que o conteúdo era descartável.

A resposta da Storytime foi radical: “100% histórias, 0% plástico”, uma promessa que ia na contramão do mercado da época.

Estratégias de licenciamento desde o início

O diferencial da Storytime reside na mentalidade de licenciamento aplicada desde a concepção. Skantze utilizou sua experiência prévia com marcas como Disney, Mattel e PlayStation para estruturar a revista pensando na expansão futura.

Desde o início, todos os contratos foram feitos com todos os direitos. Tudo que a Storytime já criou até hoje é licenciável

Essa abordagem incluiu a organização do acervo com metadados completos, temas e níveis de leitura, além de conteúdo modular que permite licenciamento parcial. A estratégia também contemplou branding preparado para diferentes contextos e mercados, mantendo sempre a qualidade editorial como elemento não negociável.

Diversificação como estratégia de sobrevivência

A fundadora da Storytime enfatizou que a pergunta central para editoras hoje é: “O que mais podemos ser além de revistas?” A resposta veio através da observação do comportamento dos leitores e da criação de um ecossistema de produtos e serviços.

A revista expandiu para múltiplas frentes. O Storytime for Schools representa um programa educacional que corresponde a um terço da receita total. O Storytime Hub funciona como plataforma EdTech com histórias em áudio, enquanto os aplicativos permitem consumo sem mídia impressa.

Paralelamente, o licenciamento para terceiros abrange cadernos, jogos de tabuleiro e programas educativos diversos.

Os três superpoderes do licenciamento editorial

Skantze identificou três elementos essenciais para transformar uma publicação em marca licenciável.

  • Conteúdo original e adaptável: “Se o conteúdo for ruim, por que você está criando?”, questionou. Ele deve ser modular, permitindo licenciamento parcial e adaptação para diferentes formatos.
  • Branding e reputação sólidos: Incluem valores fortes, potencial de expansão e presença de autoridade no setor. Skantze destacou a importância de sair da “bolha editorial” e participar de feiras de diferentes setores.
  • Parcerias flexíveis: Oferecem modelos de licenciamento que permitam aos parceiros testar antes de investir completamente.

Licenciamento 360 graus

A executiva também falou sobre a estratégia de “licenciamento 360 graus”, que envolve quatro etapas fundamentais:

  • Análise de tendências do setor específico
  • Mapeamento do ecossistema de consumo e produção
  • Auditoria interna do conteúdo existente
  • Planejamento futuro para criação mais inteligente

Como exemplo prático, Skantze apresentou o caso da revista finlandesa Tauko, de costura e sustentabilidade, onde aplicou essa metodologia. Em apenas três meses, conseguiram assinar o primeiro contrato de licenciamento.

Exemplos de sucesso global

A palestrante destacou também quatro revistas que exemplificam a transformação bem-sucedida em marcas:

  • A Monocle expandiu para rádio 24 horas, lojas físicas, guias de viagem e eventos.
  • A Flow, revista holandesa, criou clubes offline para atividades manuais.
  • A Delayed Gratification, revista de slow journalism, oferece cursos e eventos.
  • Já a Kinfolk domina o lifestyle escandinavo com produtos para casa e experiências.

O futuro do conteúdo editorial

Skantze concluiu sua apresentação com uma visão otimista sobre o futuro editorial.

O tempo é finito, mas hoje nosso tempo é dividido em muitas coisas. Temos o tempo de ler, ouvir, assistir, interagir e desconectar. Para nós, publishers, é sempre tempo de ser excelente em todos esses espaços

A fundadora da Storytime acredita que a geração Z, apesar de consumir em média 6,5 horas de mídia diária, está “pedindo ajuda” para consumir conteúdo de qualidade. “66% deles estão preocupados com o que consomem, eles querem qualidade”, observou.

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