O consultor em transformação digital Paul Hood apresentou um panorama abrangente sobre o futuro da mídia durante o FIPP Insider São Paulo, evento que aconteceu nesta quinta (05/06) na ESPM. Em sua palestra “Tendências e Previsões para a Mídia: Um Panorama do Futuro”, ele trouxe um panorama sobre como a inteligência artificial está revolucionando o setor editorial, destacando tanto oportunidades quanto ameaças para publishers.

Hood, ex-diretor de desenvolvimento digital do The Sun e especialista em aplicação de IA em negócios de mídia, estruturou sua apresentação em apontar oportunidades e ameaças que os editores precisam considerar na era da inteligência artificial.

Veja na íntegra como foi o evento

Oportunidades emergentes para publishers

O consultor identificou três principais oportunidades que a IA oferece para o mercado editorial.

A primeira refere-se à transição de conteúdo massificado para comunidades de nicho e microssegmentos, permitindo que publishers desenvolvam relacionamentos mais profundos com suas audiências e ofereçam experiências altamente personalizadas.

A segunda oportunidade está relacionada à mudança no consumo de mídia social. Segundo Hood, as audiências estão migrando do consumo passivo para o engajamento com conteúdo autêntico criado por creators:

Publishers que abraçarem essa tendência podem alcançar novos públicos e construir comunidades mais leais

Já a última, de acordo com Hood, envolve a evolução da personalização retrospectiva para preditiva. Com ferramentas de IA disponíveis, editores podem servir conteúdo baseado em sinais como horário, localização e interesses específicos, oferecendo experiências mais relevantes aos leitores.

Ameaças que exigem ação imediata

Hood alertou para três ameaças significativas que o setor enfrenta. A primeira é a mudança fundamental na descoberta de conteúdo, com a transição de mecanismos de busca para “answer engines” (motores de resposta). Essa transformação, segundo ele, ameaça o papel dos publishers como curadores confiáveis de informação.

A segunda ameaça está relacionada ao tráfego de busca. O consultor apresentou dados mostrando que 80% dos consumidores agora dependem de resultados de busca “zero clique” em pelo menos 40% de suas pesquisas, reduzindo drasticamente o tráfego direcionado aos sites dos editores.

Por fim, Hood falou sobre a disparidade de investimento. Ele mostrou que apenas as quatro maiores empresas de tecnologia investiram mais de US$ 250 bilhões em IA generativa no último ano, criando uma competição desproporcional para publishers tradicionais.

Dados alarmantes sobre scraping de conteúdo

Durante a apresentação, Hood compartilhou pesquisas da empresa britânica Tolbit que revelam um aumento de 117% no scraping de conteúdo por bots de IA entre o terceiro e quarto trimestres do ano passado. Mais preocupante ainda, 40% desses bots estão ignorando comandos robots.txt, extraindo conteúdo mesmo quando explicitamente proibidos.

O consultor destacou que o ChatGPT, com 4,5 bilhões de usuários únicos mensais, tornou-se um dos dez sites mais visitados do mundo, superando plataformas como Bing, Reddit e Amazon. Essa rápida adoção demonstra a velocidade com que os hábitos de consumo de informação estão mudando.

Soluções e recomendações práticas

Hood recomendou que publishers busquem parcerias com empresas de “middleware” especializadas em licenciamento de conteúdo. Essas empresas ajudam editores a entender a escala do scraping em seus sites e a proteger seu conteúdo intelectual. O consultor também destacou iniciativas um motor de resposta baseado exclusivamente em conteúdo licenciado, que oferece atribuição adequada aos publishers originais. Essa abordagem contrasta com outros sistemas que sintetizam informações sem compensação ou crédito.

Perspectivas para o futuro

Apesar dos desafios, Hood mantém otimismo sobre o futuro da mídia. Ele enfatizou que, assim como print, websites e eventos não morreram com mudanças tecnológicas anteriores, os publishers podem adaptar-se e prosperar na era da IA.

O consultor concluiu recomendando que editores tomem ação imediata para proteger seu conteúdo, engajem-se com tecnologias de licenciamento e explorem o potencial da IA agêntica para melhorar a eficiência operacional. “O tempo de preparação é agora, não daqui a seis meses”, alertou Hood.

FIPP Insider São Paulo consolidou-se como uma oportunidade estratégica para profissionais do setor compreenderem as transformações do mercado editorial e desenvolverem estratégias sustentáveis para o futuro da indústria de conteúdo no Brasil.

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