O palestrante Max Frost, cofundador da RocaNews, deixou uma mensagem fundamental no painel que comandou agora há pouco no FIPP Insider São Paulo. Segundo ele, “o jornalismo digital precisa se reinventar para conquistar a Geração Z, que vê as notícias tradicionais como uma tarefa chata e prefere consumir informação nas redes sociais”.

Frost apresentou dados que revelam a desconexão entre os formatos tradicionais de notícia e as expectativas dos jovens consumidores. Segundo pesquisa do Reuters Institute, citada pelo palestrante, muitos jovens consideram as notícias uma obrigação, o que dificulta a venda de assinaturas quando competem com serviços como Spotify e Netflix.

Veja na íntegra como foi o evento

O problema da confiança nas notícias tradicionais

A crise de confiança no jornalismo representa um dos maiores desafios para as empresas de mídia, de acordo com Frost. Ele destacou que menos da metade dos estadunidenses confiava nas organizações jornalísticas em 2020, mesmo para informações sobre a pandemia, um tema que ainda não havia se tornado politicamente polarizado.

Os jovens odeiam as notícias. Eles querem consumir notícias, mas odeiam a forma como precisam fazer isso

O executivo apontou que a combinação de conteúdo considerado chato, caro, inconveniente e não confiável criou uma “oportunidade massiva no mercado”.

A RocaNews, fundada em maio de 2020, durante a pandemia, surgiu justamente para preencher essa lacuna, como destacou o executivo. A startup desenvolveu uma abordagem focada em redes sociais para entregar notícias de alta qualidade, não partidárias e precisas para uma audiência jovem global.

Formatos inovadores para uma nova geração

O sucesso da RocaNews – que alcança 2,5 milhões de pessoas semanalmente e 50 milhões mensalmente – baseia-se na adaptação dos formatos de conteúdo às preferências da Geração Z. No Instagram, principal plataforma da empresa com 1,7 milhão de seguidores, as notícias são apresentadas em formato de slides com uma capa atrativa e bullet points informativos.

“Você pode ter uma ótima capa e conseguir três vezes mais engajamento nas redes sociais”, observou Frost, comparando essa estratégia ao antigo poder das capas de revista.

A empresa utiliza memes e referências culturais para tornar notícias complexas mais acessíveis, como usar uma imagem do jogador LeBron James bloqueando Donald Trump para explicar o bloqueio de um projeto de lei no Congresso americano.

A importância da autenticidade no jornalismo digital

Frost enfatizou que a autenticidade se tornou a moeda mais valiosa no cenário atual de mídia. Ele citou exemplos de criadores de conteúdo como Joe Rogan, dono de um podcast que alcança dezenas de milhões de pessoas mensalmente sem credenciais jornalísticas tradicionais, mas conquistou a confiança do público através da transparência e personalidade genuína.

A ideia de uma empresa legada, uma marca legada, é inerentemente tóxica para um grande número de jovens ao redor do mundo

Segundo Frost, o publishing tradicional precisa repensar sua abordagem, priorizando a conexão autêntica com a audiência em vez de depender apenas da reputação histórica.

Estratégias práticas para publishers tradicionais

Durante o evento, Frost ofereceu conselhos específicos para veículos estabelecidos que buscam se conectar com audiências mais jovens. Para publicações financeiras, por exemplo, sugeriu a criação de conteúdo em vídeo que acompanhe as reportagens tradicionais.

“Por que não levar uma câmera de vídeo toda vez que fizerem uma matéria?”, questionou Frost ao responder uma pergunta sobre como o Financial Times poderia se conectar melhor com jovens leitores.

Ele destacou que entrevistas impressionantes frequentemente ficam restritas ao formato texto, perdendo o potencial de alcance do conteúdo audiovisual.

Modelo de negócios sustentável para mídia digital

A RocaNews desenvolveu um modelo de receita diversificado que pode servir de inspiração para outras empresas de publishing. Um terço da receita vem de assinaturas através do aplicativo e newsletter, outro terço de publicidade nas redes sociais, e o restante de conteúdo em vídeo.

Frost revelou que o conteúdo em vídeo oferece as melhores oportunidades de monetização, com taxas dez vezes superiores às da publicidade tradicional, mesmo com audiências menores. “O vídeo é mais à prova de IA”, explicou, destacando que esse formato oferece maior proteção contra a automação que ameaça o conteúdo escrito.

O executivo também apresentou o aplicativo da RocaNews, modelado no Duolingo, que transforma o consumo de notícias em uma experiência gamificada. Os usuários navegam por slides interativos e recebem recompensas ao completar as histórias, tornando a leitura mais envolvente para uma geração acostumada com entretenimento instantâneo.

O futuro do storytelling digital

Para Frost, o storytelling do futuro deve seguir três princípios fundamentais: tornar o conteúdo conveniente ao encontrar a audiência onde ela está, relevante ao oferecer o que ela deseja, e autêntico para construir confiança genuína.

“Se você está competindo com TikTok e Instagram sendo uma empresa de notícias, não temos a vantagem de ser mais divertidos. Temos a vantagem de promover autodesenvolvimento”, concluiu Frost, destacando que o jornalismo de qualidade oferece algo único: a capacidade de fazer as pessoas se sentirem mais inteligentes após o consumo.

A apresentação de Max Frost no FIPP Insider São Paulo mostra que o futuro do publishing depende da capacidade de adaptar formatos tradicionais às expectativas de uma nova geração, sem comprometer a qualidade e precisão que definem o bom jornalismo.

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